
Em dez anos, caiu quase 40% o número de partos em menores de 19 anos no país. Na semana retrasada, o governo paulista divulgou dados parecidos referentes ao Estado.
O governo atribui a queda às suas ações de conscientização e distribuição de preservativos e anticoncepcionais. Um médico e um estatístico especialistas no assunto consultados pelo Folhateen, porém, apontam um fator mais importante.
“Se a adolescente não tem projetos de vida, a gravidez vira o projeto de vida”, resume Marco Aurélio Galletta, médico responsável pelo setor de gravidez na adolescência do HC (Hospital das Clínicas).
“Muita gente subiu para a classe C nos últimos anos. Essas pessoas têm uma perspectiva melhor de estudo e trabalho do que há vinte anos.”
Edson Martinez, da USP de Ribeirão Preto, lembra, contudo, que a taxa de gravidez no Brasil ainda é alta –mais de 400 mil grávidas ao ano. “Se o crescimento econômico significa apenas aumento do poder de consumo, não basta.”
Martinez e Galletta citam ainda que famílias ricas têm mais acesso ao aborto –a taxa de partos pode ser mais baixa entre eles, mas a de gravidezes nem tanto. “Adolescente é adolescente. Eles são imediatistas e um tanto irresponsáveis em qualquer classe social”, diz Galletta.
QUERO SER MAMÃE
Dados de hospitais como o HC e o Hospital Maternidade de Vila Nova Cachoeirinha (zona norte) quebram alguns mitos sobre grávidas adolescentes.
Thauany, 16, que mora na Brasilândia (periferia da zona norte) e foi atendida nesse segundo hospital, representa bem algumas características das adolescentes que têm filhos.
Como a maioria, tinha um relacionamento fixo antigo, de três anos. Os dados (veja acima) mostram que poucas gravidezes são fruto de sexo casual.
Outra imagem errada é a do parceiro canalha que some ao saber do filho. “A maioria curte, acha que reforça a masculinidade”, diz Galletta. É também o caso de Thauany. Ela conta que, no começo do ano, combinou com o “marido”: parariam com a pílula e a camisinha.
Ela está de sete meses. Mora com a mãe, o padrasto, o irmão e o namorado. Os R$ 800 que o parceiro ganha como repositor de mercado vão bancar a pequena Micaely Vitória. Thauany está feliz. Na escola onde cursa a oitava série, só paparicos. As amigas “falam que também querem, que é o sonho delas”.
“Grávida ganha status. Na escola, vira a mais experiente. Em casa, se deita no sofá e diz ter sede, aparece um copo d´água. É preciso mostrar para as meninas como um filho pode atrapalhar outros sonhos”, diz Galletta.
Fonte: Folha de SP
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