Pastores africanos fazem campanha para circuncidar 20 milhões de homens |
Líderes religiosos acreditam que medida pode ajudar na luta contra a AIDS
Nos últimos 15 anos, George Karambuka, um pastor pentecostal e também profissional na área de saúde, tem lutado contra HIV e AIDS. Ele e os demais líderes da igreja no Quênia defendem a abstinência sexual antes do casamento e a fidelidade conjugal.
Porém, Karambuka se juntou a vários pastores africanos que estão
fazendo uma campanha nova, que já está gerando polêmica: a circuncisão
de homens como conter o vírus. Estima-se que 70% dos homens na África já
são circuncidados. Porém, cerca de 20 milhões de homens adultos não
passaram por isso e poderiam se beneficiar do procedimento.
Embora haja fortes questionamentos, pesquisas recentes indicam que a
circuncisão de fato pode ajudar a prevenir a transmissão do HIV de
mulheres para homens. Edward C. Green, um renomado pesquisador do
assunto, explica: “Do ponto de vista da saúde pública, a circuncisão
seria benéfica, especialmente no sul da África, onde as taxas de
infecção são mais elevadas”.
Ele acredita que o apoio da igreja é “poderoso” e “essencial” no
combate do vírus que tem dizimado populações na África. Como um todo,
as igrejas têm intensificado os esforços para combater a AIDS. O próprio
Karambuka perdeu a primeira esposa para a doença e até hoje não sabe
como ela adquiriu o vírus, já que nunca usou drogas e ele foi o primeiro
homem com quem ela dormiu.
Porém, ele lembra que quando começou a falar sobre a epidemia de
HIV/AIDS em 1998, alguns líderes da igreja o criticaram. Felizmente,
depois de tantos anos as coisas estão mudando. No Quênia, um país de 43
milhões de habitantes, 1 milhão e meio de pessoas vivem com o HIV. No
país, cerca de 1,2 milhão de crianças que ficaram órfãos por que a Aids
matou seus pais.
Karambuka dirige um posto de saúde na capital Nairobi, onde
circuncisões voluntárias ocorrem quase todos os dias da semana. Em
média, são 20 procedimentos por dia, numa cirurgia de 15 minutos.
O fluxo constante de pacientes deve-se, em grande parte a
organizações cristãs que encaminhas os homens para clínicas que realizam
a circuncisão. São católicos romanos, anglicanos, presbiterianos,
pentecostais e de várias outras igrejas. Uma maneira de convencer os
homens a concordar com o procedimento, explica Green, é salientar que
Jesus, sendo judeu, foi circuncidado.
Vários anos atrás, estudos de médicos da África revelou que a
circuncisão masculina reduzia infecções de mulheres para homens em cerca
de 60 por cento. Em 2007, a Organização Mundial de Saúde e a Agência
UNAIDS emitiu recomendações oficiais, dizendo: “A eficácia da
circuncisão masculina na redução da transmissão do HIV de fêmea para
macho já foi provada”. De acordo com projeções da ONU, se 20 milhões de
homens entre 15 e 49 anos forem circuncidados até 2015, nos 14 países em
que a campanha é feita, haveria 3,4 milhão de infecções a menos em
2025.
Isso não muda, porém, as campanhas de associações religiosas de
enfatizar que a melhor prevenção é a abstinência sexual dos solteiros e a
fidelidade conjugal dos casados. Karambuka disse que a maioria dos
evangélicos quenianos estão dispostos a trabalhar com os católicos,
agências governamentais e outros grupos estrangeiros para lidar com o
grande número de famílias devastadas pelo HIV/AIDS.
Contudo, alguns estudiosos da Bíblia
e líderes da igreja da África acham que esse tipo de campanha pode
fazer mais mal do que bem. Mateus Okeyo, da Igreja do Interior Africano,
entende que a intenção é boa, mas defende que a igreja deve se
concentrar no que a Bíblia ensina e não oferecer alternativas.
“Precisamos ensinar a verdade sobre a sexualidade e sua beleza”,
disse. ”O problema que temos de ver as pessoas mudarem seus hábitos, não
oferecer uma opção mais fácil de vida.”
Martin Wesonga, deão acadêmico no Instituto de Teologia e
Desenvolvimento Hannington, na cidade de Mombaça, no Quênia, ressalta:
“O cristianismo não condena o incircunciso, mas Paula fala sobre
circuncidar o coração. Salvação é pela fé. Em meu entendimento, a
circuncisão não irá parar a propagação do HIV. Só a moralização do
coração, que é trazida por Jesus Cristo, pode ajudar a deter a
propagação do HIV/AIDS “.
Ainda assim, uma nova pesquisa de campo revela que os membros da
comunidade cristã do Quênia estão respondendo melhor aos programas de
HIV / AIDS que a população em geral. De acordo com os dados de 2007,
religiosos têm, de fato, as menores taxas de infecção. Entre os
católicos romanos, a taxa de prevalência foi de 5,4%, entre os
evangélicos é 5,7%.
Traduzido e adaptado de Christian Today.
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